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Efeitos Adversos da Acupuntura: Uma Análise Baseada em Evidências sobre Prevalência e Incidência

  • Foto do escritor: Dr. Sergio Akira Horita
    Dr. Sergio Akira Horita
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura
Profissional de saúde tranquilo, representando a segurança na acupuntura quando se conhece a real incidência e prevalência dos efeitos adversos

A acupuntura é reconhecida mundialmente como uma intervenção terapêutica de alta segurança. No entanto, como qualquer procedimento que envolve a transposição da barreira cutânea, ela não está isenta de riscos. Para o profissional de saúde, conhecer a natureza, a incidência e a prevalência dos efeitos adversos é uma obrigação ética e um pilar para a prática clínica segura.

Este artigo oferece uma análise técnica dos efeitos adversos da acupuntura, diferenciando eventos leves e transitórios de eventos graves, e apresentando dados concretos da literatura científica sobre sua frequência.


1. Classificação e Racional dos Efeitos Adversos

Os efeitos adversos podem ser categorizados em dois grandes grupos:


1.1. Efeitos Adversos Leves e Transitórios

São os mais comuns, geralmente autolimitados e sem consequências significativas para a saúde do paciente.


Sangramento Mínimo ou Hematoma:

Racional: Ocorre pela puntura de capilares ou vênulas na derme e no tecido subcutâneo. É mais comum em pacientes que utilizam anticoagulantes ou em áreas de maior vascularização.

Prevalência: Este é o efeito adverso mais frequente. Estudos apontam uma incidência que varia de 7% a 10% das sessões.


Dor Leve no Local da Puntura:

Racional: Pode ocorrer pela estimulação direta de um nociceptor cutâneo ou pela técnica de manipulação da agulha para obter o Deqi (a sensação característica da acupuntura). Geralmente, cessa após o ajuste ou a retirada da agulha.


Tontura, Vertigem ou Lipotimia:

Racional: Uma reação vasovagal pode ser desencadeada pela ansiedade, fobia de agulhas ou pela primeira experiência do paciente com o procedimento. É mais comum em pacientes em jejum ou fatigados. A incidência é estimada em cerca de 1% a 3% dos pacientes.


Sonolência ou Fadiga Pós-tratamento:

Racional: Este efeito é frequentemente associado à liberação de endorfinas e à modulação do sistema nervoso autônomo, induzindo um estado de relaxamento profundo. Embora seja um efeito adverso para alguns, para muitos é um resultado terapêutico desejado.


1.2. Efeitos Adversos Graves (Extremamente Raros)

Estes são eventos que podem ameaçar a vida ou causar incapacidade significativa. Sua ocorrência é quase invariavelmente associada a erro de técnica ou à negligência das normas de assepsia.


Pneumotórax:

Racional: É o evento adverso grave mais citado e temido. Ocorre pela perfuração da pleura visceral durante o agulhamento em pontos localizados na parede torácica ou na região paravertebral dorsal superior. Exige conhecimento anatômico preciso e controle rigoroso da profundidade e do ângulo de inserção da agulha.

Incidência: A incidência é extraordinariamente baixa. Uma revisão sistemática de grande porte estimou a ocorrência em menos de 2 casos por 1 milhão de tratamentos (WHITE, 2004).


Infecções (Locais ou Sistêmicas):

Racional: Ocorrem pela quebra da técnica asséptica, seja pelo uso de agulhas não estéreis e reutilizadas ou pela desinfecção inadequada da pele. Os patógenos mais comuns são Staphylococcus aureus e Streptococcus. Hepatites B e C também já foram transmitidas por reutilização de agulhas, uma prática hoje abandonada.

Incidência: Com o uso universal de agulhas descartáveis e estéreis, a incidência de infecções graves tornou-se praticamente nula em práticas regulamentadas.


Lesão de Órgãos ou Estruturas do Sistema Nervoso:

Racional: Atingir um nervo periférico, a medula espinhal ou órgãos internos (como fígado, rins ou baço) é tecnicamente possível, mas decorre de erro grosseiro no conhecimento da anatomia topográfica e da profundidade de inserção.

Incidência: Estudos de larga escala estimam que a incidência combinada de todos os eventos adversos graves (incluindo lesões de órgãos e pneumotórax) seja da ordem de 0,05 a 0,1 por 10.000 tratamentos (MACPHERSON et al., 2001).


Conclusão

A análise da literatura científica é inequívoca: a acupuntura, quando realizada por um profissional qualificado, com profundo conhecimento de anatomia e que adere estritamente às normas de assepsia utilizando agulhas descartáveis, é um dos procedimentos médicos mais seguros disponíveis.

A esmagadora maioria dos efeitos adversos é leve, transitória e sem relevância clínica. Os eventos graves, embora possíveis, são extremamente raros e servem como um poderoso lembrete de que a segurança em acupuntura é diretamente proporcional à competência do praticante.


Referências bibliográficas:

  1. MACPHERSON, H. et al. The York acupuncture safety study: prospective survey of 34 000 treatments by traditional acupuncturists. BMJ, v. 323, n. 7311, p. 486-487, 2001.

  2. WHITE, A. A cumulative review of the range and incidence of significant adverse events associated with acupuncture. Acupuncture in Medicine, v. 22, n. 3, p. 122-133, 2004.

  3. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines on basic training and safety in acupuncture. Geneva: WHO, 1999.

  4. ZHAO, L. et al. The 2011 survey of acupuncture adverse events in a Chinese hospital. Acupuncture in Medicine, v. 31, n. 2, p. 157-164, 2013.

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