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Protocolo de Acupuntura para a Profilaxia da Cefaleia Tensional Crônica: Um Guia Prático para Profissionais

  • Foto do escritor: Dr. Sergio Akira Horita
    Dr. Sergio Akira Horita
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura
Infográfico ilustrando o protocolo de acupuntura para cefaleia tensional crônica, mostrando a localização anatômica dos principais pontos locais (VB20, B10, VB21) e distais (F3, E36) e a conexão entre eles, representando a estratégia de tratamento completa

A eficácia da acupuntura na profilaxia da cefaleia do tipo tensional (CTT) crônica está bem estabelecida na literatura científica. No entanto, para que os resultados sejam consistentes, é fundamental que o clínico siga um protocolo de tratamento estruturado.

Este guia oferece um protocolo prático, baseado em evidências de ensaios clínicos e nos princípios da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), destinado a profissionais de saúde que implementam a acupuntura em sua prática.


Disclaimer: Este protocolo é um guia. A avaliação clínica individual e o diagnóstico diferencial são soberanos e devem sempre guiar a seleção final de pontos.


Fase 1: Avaliação Inicial e Definição de Metas

Diagnóstico e Classificação: Confirme o diagnóstico de CTT crônica (>15 dias/mês) segundo os critérios da International Headache Society.

Baseline Clínico: Utilize um diário da cefaleia por 2 a 4 semanas antes de iniciar o tratamento para estabelecer a frequência, intensidade (Escala Visual Analógica) e o uso de medicação de resgate.

Diagnóstico MTC: Diferencie o padrão de base. É uma Estagnação do Qi do Fígado (ligada ao estresse) ou uma Deficiência de Qi e Sangue (ligada ao cansaço e esgotamento)? Essa diferenciação é crucial para a individualização do protocolo.


Fase 2: Protocolo de Pontos de Acupuntura

Este protocolo combina pontos locais para alívio da tensão miofascial com pontos distais para tratar a desarmonia de base.


A. Pontos Locais e Adjacentes (Tratando o "Galho")

O foco é a desativação de pontos-gatilho e o relaxamento da musculatura pericraniana e da cintura escapular.

Região Cervical e Occipital:

  • VB20 (Fengchi): Ponto mestre para a região suboccipital. Essencial em quase todos os protocolos.

  • B10 (Tianzhu): Age sobre os paravertebrais e a inserção do trapézio.

  • Região do Trapézio e Ombros:

  • VB21 (Jianjing): Ponto motor do trapézio superior. Deve ser agulhado com cuidado (risco de pneumotórax) para obter a resposta de contração local (twitch response).

  • TA15 (Tianliao): Localizado na fossa supraescapular, relaxa o músculo supraespinhal.

Região Temporal e Frontal:

  • E8 (Touwei) / VB8 (Shuaigu): Para dor e tensão na região temporal.

  • Yintang (Ex-AC3): Promove relaxamento e alivia a sensação de pressão frontal.

  • Pontos Ashi: A palpação cuidadosa para identificar e agulhar os pontos-gatilho mais ativos no pescoço e ombros é uma parte fundamental do tratamento.


B. Pontos Distais (Tratando a "Raiz")

A seleção é baseada no diagnóstico diferencial da MTC.


Para Estagnação do Qi do Fígado (Padrão de Excesso/Estresse):

  • F3 (Taichong): Ponto fonte do meridiano do Fígado, fundamental para mover o Qi estagnado.

  • IG4 (Hegu): Ponto de forte ação analgésica e mobilizadora de Qi. A combinação de F3 com IG4 (conhecida como "Quatro Portões") é extremamente eficaz para restaurar o livre fluxo energético.

  • CS6 (Neiguan): Abre o tórax, acalma a mente e auxilia na regulação do Qi do Fígado.


Para Deficiência de Qi e Sangue (Padrão de Deficiência/Cansaço):

  • E36 (Zusanli): Grande ponto para tonificar o Qi e o Sangue, fortalecendo o sistema do Baço-Pâncreas.

  • BP6 (Sanyinjiao): Ponto de encontro dos três meridianos Yin da perna, crucial para nutrir o Sangue e acalmar a mente.

  • VC6 (Qihai): Ponto que tonifica o Qi original (Yuan Qi) e combate a fadiga crônica.


Fase 3: Parâmetros e Condução do Tratamento

A metodologia é tão importante quanto a seleção dos pontos. As diretrizes baseiam-se em revisões sistemáticas de alta qualidade.

Frequência: Iniciar com 1 a 2 sessões por semana durante as primeiras 4 a 6 semanas. Conforme a melhora, a frequência pode ser reduzida gradualmente para uma sessão a cada 15 dias e, posteriormente, para manutenção mensal (LINDE et al., 2016).

Duração da Sessão: A retenção das agulhas deve ser de 20 a 30 minutos.

Curso do Tratamento: Um curso terapêutico completo geralmente consiste de 10 a 12 sessões. A decisão de continuar ou fazer uma pausa deve ser baseada na reavaliação do diário da cefaleia. Uma redução de 50% ou mais na frequência é considerada uma resposta excelente.

Estímulo: A obtenção do De Qi (sensação de peso, distensão ou formigamento) é desejável. O uso de eletroacupuntura em pares de pontos locais (ex: VB20-B10) com frequência mista (2/100 Hz) pode potencializar significativamente o efeito analgésico e relaxante muscular.


Ao aplicar este protocolo de forma consistente, o profissional estará oferecendo um tratamento para a cefaleia tensional crônica que é robusto, baseado em evidências e alinhado com os princípios de tratamento individualizado.


Referências Bibliográficas

  1. FOCKS, C.; REICHSTEIN, C. Atlas de Acupuntura. 2. ed. Barueri: Manole, 2008.

  2. HEADACHE CLASSIFICATION COMMITTEE OF THE INTERNATIONAL HEADACHE SOCIETY (IHS). The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia, v. 38, n. 1, p. 1-211, 2018.

  3. LINDE, K. et al. Acupuncture for the prevention of tension-type headache. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 4, art. CD007587, abr. 2016.

  4. MACIOCIA, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: Um Texto Abrangente para Acupunturistas e Fitoterapeutas. 2. ed. São Paulo: Roca, 2007.

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