A Teoria dos Cinco Elementos (Wu Xing): Fundamentos Clássicos e Correlações Neurofisiológicas na Prática Clínica
- Dr. Sergio Akira Horita

- 30 de out.
- 3 min de leitura

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é sustentada por pilares teóricos robustos que guiam o diagnóstico e a terapêutica. Dentre eles, a Teoria dos Cinco Elementos (五行, Wǔ Xíng) se destaca como um modelo sofisticado para a compreensão das interações dinâmicas no corpo humano e sua relação com o ambiente. Desenvolvida no século IV a.C. pela Escola Yin-Yang, notadamente por Zou Yan, esta teoria transcende a mera classificação, oferecendo um framework para interpretar a fisiologia, a patologia e a farmacologia sob uma ótica integrativa. Este artigo revisita os fundamentos do Wǔ Xíng e explora suas implicações clínicas à luz de evidências científicas contemporâneas.
Os Fundamentos do Modelo Wǔ Xíng
Derivada do conceito de Yin e Yang, a teoria postula que todos os fenômenos do universo — materiais, energéticos, emocionais e espirituais — podem ser classificados e compreendidos através da interação de cinco fases ou movimentos arquetípicos: Madeira (木, Mù), Fogo (火, Huǒ), Terra (土, Tǔ), Metal (金, Jīn) e Água (水, Shuǐ). Cada elemento possui um conjunto de correspondências que incluem órgãos Zang-Fu, tecidos, emoções, sabores e fatores climáticos, formando uma rede complexa de inter-relações.

Os Ciclos de Interação Dinâmica A interação entre os elementos é governada por ciclos fisiológicos de regulação e patológicos de desequilíbrio:
Ciclo de Geração (生, Shēng): Conhecido como "relação mãe-filho", descreve a nutrição e promoção entre os elementos (ex: Água gera Madeira; Madeira gera Fogo). Fisiologicamente, pode ser correlacionado a vias metabólicas em cascata ou à maturação sequencial de sistemas biológicos.
Ciclo de Dominância (克, Kè): Conhecido como "relação avô-neto", representa o controle e a restrição mútua, garantindo o equilíbrio homeostático (ex: Fogo domina Metal; Metal domina Madeira). Este ciclo pode ser análogo aos mecanismos de feedback negativo que regulam os eixos hormonais e a atividade do sistema nervoso autônomo.
Os Ciclos Patológicos e Suas Implicações Clínicas
A quebra da homeostase manifesta-se através de dois ciclos anormais:
Ciclo de Agressão (乘, Chèng): Uma exacerbação do Ciclo de Dominância, onde um elemento excessivamente forte subjuga outro já enfraquecido. Clinicamente, pode ser observado em doenças autoimunes, onde um sistema hiperativo ataca tecidos vulneráveis.
Ciclo de Contradominância (侮, Wǔ): Uma inversão do Ciclo de Dominância, onde o elemento que seria dominado se rebela contra seu controlador. Este fenômeno pode ser visto em condições de inflamação crônica que levam à resistência hormonal, como a resistência à insulina.

Correlações Modernas e Aplicações Clínicas
A relevância clínica da Teoria dos Cinco Elementos é amplificada quando interpretada através da fisiologia moderna. Por exemplo, a associação do elemento Água (Rim/Bexiga) com o medo e o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) oferece um modelo para o tratamento de distúrbios de estresse crônico. A relação da Madeira (Fígado/Vesícula Biliar) com a raiva e a regulação do fluxo suave de Qi encontra paralelo na função do sistema nervoso simpático e no metabolismo hepático de neurotransmissores.
A farmacologia da MTC (Fitoterapia) utiliza esta teoria para classificar o sabor e a natureza energética das ervas, permitindo a criação de fórmulas que atuam sinergicamente para restaurar o equilíbrio dos ciclos. Por exemplo, ervas de sabor amargo (Fogo) são frequentemente usadas para "drenar o fogo do Fígado", uma condição que pode ser correlacionada a quadros de hipertensão e cefaleia tensional.
Conclusão
A Teoria dos Cinco Elementos permanece como uma ferramenta diagnóstica e terapêutica indispensável na MTC. Sua capacidade de mapear interações complexas oferece uma visão holística que, quando integrada ao conhecimento neurofisiológico moderno, potencializa a precisão clínica e a eficácia do tratamento. A compreensão aprofundada de seus ciclos permite ao profissional não apenas tratar a manifestação da doença, mas também sua raiz etiológica, promovendo uma regulação sistêmica e duradoura da saúde.
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Referências:
Maciocia, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: Um Texto Abrangente para Acupunturistas e Fitoterapeutas. 3ª edição. Editora Roca, 2019.
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