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A Teoria dos Cinco Elementos (Wu Xing): Fundamentos Clássicos e Correlações Neurofisiológicas na Prática Clínica

  • Foto do escritor: Dr. Sergio Akira Horita
    Dr. Sergio Akira Horita
  • há 5 horas
  • 3 min de leitura
Infográfico circular da Teoria dos Cinco Elementos da Medicina Tradicional Chinesa. O diagrama ilustra as relações de Geração (ciclo externo) e Dominância (estrela interna) entre os elementos Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é sustentada por pilares teóricos robustos que guiam o diagnóstico e a terapêutica. Dentre eles, a Teoria dos Cinco Elementos (五行, Wǔ Xíng) se destaca como um modelo sofisticado para a compreensão das interações dinâmicas no corpo humano e sua relação com o ambiente. Desenvolvida no século IV a.C. pela Escola Yin-Yang, notadamente por Zou Yan, esta teoria transcende a mera classificação, oferecendo um framework para interpretar a fisiologia, a patologia e a farmacologia sob uma ótica integrativa. Este artigo revisita os fundamentos do Wǔ Xíng e explora suas implicações clínicas à luz de evidências científicas contemporâneas.


Os Fundamentos do Modelo Wǔ Xíng

Derivada do conceito de Yin e Yang, a teoria postula que todos os fenômenos do universo — materiais, energéticos, emocionais e espirituais — podem ser classificados e compreendidos através da interação de cinco fases ou movimentos arquetípicos: Madeira (木, ), Fogo (火, Huǒ), Terra (土, ), Metal (金, Jīn) e Água (水, Shuǐ). Cada elemento possui um conjunto de correspondências que incluem órgãos Zang-Fu, tecidos, emoções, sabores e fatores climáticos, formando uma rede complexa de inter-relações.

Infográfico circular da Teoria dos Cinco Elementos da Medicina Tradicional Chinesa. O diagrama ilustra as relações de Geração (ciclo externo) e Dominância (estrela interna) entre os elementos Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água

Os Ciclos de Interação Dinâmica A interação entre os elementos é governada por ciclos fisiológicos de regulação e patológicos de desequilíbrio:

  • Ciclo de Geração (生, Shēng): Conhecido como "relação mãe-filho", descreve a nutrição e promoção entre os elementos (ex: Água gera Madeira; Madeira gera Fogo). Fisiologicamente, pode ser correlacionado a vias metabólicas em cascata ou à maturação sequencial de sistemas biológicos.

  • Ciclo de Dominância (克, ): Conhecido como "relação avô-neto", representa o controle e a restrição mútua, garantindo o equilíbrio homeostático (ex: Fogo domina Metal; Metal domina Madeira). Este ciclo pode ser análogo aos mecanismos de feedback negativo que regulam os eixos hormonais e a atividade do sistema nervoso autônomo.


Os Ciclos Patológicos e Suas Implicações Clínicas

A quebra da homeostase manifesta-se através de dois ciclos anormais:

  • Ciclo de Agressão (乘, Chèng): Uma exacerbação do Ciclo de Dominância, onde um elemento excessivamente forte subjuga outro já enfraquecido. Clinicamente, pode ser observado em doenças autoimunes, onde um sistema hiperativo ataca tecidos vulneráveis.

  • Ciclo de Contradominância (侮, ): Uma inversão do Ciclo de Dominância, onde o elemento que seria dominado se rebela contra seu controlador. Este fenômeno pode ser visto em condições de inflamação crônica que levam à resistência hormonal, como a resistência à insulina.


Infográfico circular da Teoria dos Cinco Elementos da Medicina Tradicional Chinesa. O diagrama ilustra as relações de Geração (ciclo externo) e Dominância (estrela interna) entre os elementos Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água

Correlações Modernas e Aplicações Clínicas

A relevância clínica da Teoria dos Cinco Elementos é amplificada quando interpretada através da fisiologia moderna. Por exemplo, a associação do elemento Água (Rim/Bexiga) com o medo e o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) oferece um modelo para o tratamento de distúrbios de estresse crônico. A relação da Madeira (Fígado/Vesícula Biliar) com a raiva e a regulação do fluxo suave de Qi encontra paralelo na função do sistema nervoso simpático e no metabolismo hepático de neurotransmissores.

A farmacologia da MTC (Fitoterapia) utiliza esta teoria para classificar o sabor e a natureza energética das ervas, permitindo a criação de fórmulas que atuam sinergicamente para restaurar o equilíbrio dos ciclos. Por exemplo, ervas de sabor amargo (Fogo) são frequentemente usadas para "drenar o fogo do Fígado", uma condição que pode ser correlacionada a quadros de hipertensão e cefaleia tensional.


Conclusão

A Teoria dos Cinco Elementos permanece como uma ferramenta diagnóstica e terapêutica indispensável na MTC. Sua capacidade de mapear interações complexas oferece uma visão holística que, quando integrada ao conhecimento neurofisiológico moderno, potencializa a precisão clínica e a eficácia do tratamento. A compreensão aprofundada de seus ciclos permite ao profissional não apenas tratar a manifestação da doença, mas também sua raiz etiológica, promovendo uma regulação sistêmica e duradoura da saúde.



Referências:

  1. Maciocia, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: Um Texto Abrangente para Acupunturistas e Fitoterapeutas. 3ª edição. Editora Roca, 2019.

  2. Yamamura, Y. Acupuntura Tradicional - A Arte de Inserir. 2ª edição. Editora Roca, 2004.

  3. O'Connor, J. & Bensky, D. Acupuntura - Um Texto Compreensível. 1ª edição. Editora Roca, 1996.

  4. Zuo, H., et al. Systems biology perspective on traditional Chinese medicine. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2013.

  5. Chen, Y., et al. The five-element personality model in traditional Chinese medicine: A network analysis approach. Frontiers in Psychology, 2021.

  6. Li, S., et al. Neurobiological mechanisms of acupuncture for anxiety disorders. Frontiers in Neuroscience, 2021.

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